Notícias sobre violência ou preconceito contra nordestino
sempre deixa os nordestinos em pé de guerra contra os skinheads tupiniquins.
Basta sair uma notícia de preconceito que logo surgem as manifestações
ufanistas do norte. Se um paulista racista declara que deve-se matar todos
nordestinos, os baianos advogam com nomes como Castro Alves, Rui Barbosa, os
pernambucanos, maranhenses, piauienses mostram o passado de luta com as
revoltas históricas.
Mas me parece que nesse perrengue tem um hiato. Estão, de
fato, os paulistas unidos contra os nordestinos, e os nordestinos estão unidos
pelos nordestinos retirantes???
A “ilusão” de fazer dinheiro, na verdade não é ilusão. Quem
fala que é ilusão não sabe ver de acordo com a óptica do migrante. Fala-se que
esse trabalhador não vai melhorar de vida, pois as oportunidades em São Paulo
são para viver em condições pobres. Isso, em geral, é dito por intelectuais que
consideram os empregos que os nordestinos conseguem como empregos inferiores.
Ok, seu dotô, vai pra o sertão da Bahia e do Ceará e conheça os ganhos que esse
migrante tinha e compare com a FORTUNA que ele faz na construção civil. – Mas
esse é assunto para outro post.
Assim como os paulistas preconceituosos acham que todo
nordestino é ignorante, os baianos que defendem a honra do norte não são da
mesma classe social desses migrantes. Os pernambucanos que se engajam na defesa
dos seus conterrâneos alagoanos são os mesmos que possuem os latifúndios no
interior e provocam a pobreza de sua gente. São os mesmos que colocam seus
filhos nas escolas particulares, pois têm preconceito com os pobres ignorantes
de sua cidade Natal (RN).
Esses nordestinos que se arvoram em defender “seu povo”,
caso venham a São Paulo, perceberão o discurso diferente para eles. Chegarão a
se identificar com seus irmãos de classe paulistas. Entenderão, e até
propagarão o preconceito contra aquele paraíba que atrapalha a vida
progressista paulistana.
Perceba, assim, que o nordestino não se une realmente com
outro nordestino, mas a classe dominante se une à classe dominante. A luta real
não é de região, mas de classe. Um soteropolitano da Graça não vai preferir ficar
hospedado no Jardim Ângela na casa de um nordestino só porque esse era morador
do Nordeste de Amaralina. Mas ele vai se sentir melhor numa casa de um paulista
“branquelo” com sobrenome italiano que more no Morumbi.
O nível de ganância humana é tal que as pessoas sempre se
unem em torno da defesa de sua condição social. Durante o século XIII, na
guerra de independência da Escócia, os príncipes escoceses que inicialmente
deram apoio aos camponeses de sua pátria que eram oprimidos pelos ingleses,
quando perceberam que esses camponeses queriam acabar com as regalias reais,
abriram mão de sua identidade pátria e se aliaram aos príncipes ingleses.
O mesmo se deu em várias revoltas brasileiras. Grupos que
desejavam maior autonomia na colônia, quando perceberam que junto com suas
lutas poderiam haver emancipação de escravos, logo deixaram sua luta e
abandonaram os conterrâneos de classe inferior, Beckmann, Balaiada, Alfaiates,
Inconfidência. No século XX, no Brasil, grupos militares e conservadores se
aliaram ao discurso anticomunista dos estadunidenses e torturaram e mataram
seus conterrâneos.
Pois bem, a luta por identidade é muito mais uma luta por
manutenção de classe, que uma luta por defesa de seus irmãos nativos. Não
existe nacionalidade que esteja desassistida de um projeto de divisão de
classes. Na história estuda-se que todos tentam construir uma identidade com
algo, e o mais forte desse algo de identidade é a classe social.
Termino esse texto com uma frase desgastada, desacreditava,
mas que ainda vive:
PROLETÁRIOS DE TODO MUNDO, UNI-VOS.
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