sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Aqueles que querem calar a voz do oprimido



Nada melhor do que a paz e a ordem reinarem no mundo. Tudo funcionando de modo que ninguém venha a atrapalhar ou impedir o “caminhar da carruagem”. Mesmo que esse funcionamento seja à revelia da paz de alguns seguimentos do povo. A paz e a ordem que se prega é aquela paz para alguns, tudo em ordem para os que trabalham, compram, se divertem; mas falta paz para os que dependem do hospital público, dependem da integridade das forças policiais, dependem da escola pública etc.

Contudo, desde que essas pessoas permaneçam quietas aceitando que a vida é assim mesmo, tudo estará em ordem. Na verdade, esse conceito de paz e ordem parte de um desejo pecaminoso chamado egoísmo. Quando não estamos sob alguma dificuldade, não olhamos com misericórdia para a dificuldade alheia. E cremos, porque só olhamos para nosso umbigo, que tudo vai bem, ou pelo menos, por sabermos das desgraças do mundo, desde que elas não nos atinjam, tudo vai, relativamente, normal.

Todavia, quando aquelas pessoas que não gozam da paz e da ordem começam a se levantar e gritar, somos incomodados com seus gritos e desejamos que elas se calem. Não damos a mínima para o que elas querem, porque elas gritam; mas precisamos de nossa ordem e paz egoístas, ficamos felizes quando os órgãos que nos proporcionam paz os silenciam. E quando isso acontece, cremos de fato que tudo está tão em ordem, que até quando estas pessoas são oprimidas temos a certeza de que há paz ao nosso redor.
Jesus Cristo presenciou a isso no passado (Evangelho de S. Mateus 20.29-34). Na saída de Jericó, dois cegos importunavam a multidão que desejava reverenciar a Jesus com a pompa diplomática. Enquanto a multidão tinha uma agradável despedida para Jesus, dois cegos gritavam em desespero por verem a sua única chance de cura ir-se embora. Debatiam-se cegamente entre a multidão, procurando por Jesus, se tumultuavam entre os cidadãos de bem, pegando nas pessoas pensando tocar em Jesus, apressadamente iam tentando encontra-lo, mas tudo em vão, sem ver, não poderiam alcança-lo.
E isto incomodava o povo. Que sentiam que sua despedia perdia o brilho com os gritos desesperados, vergonhosos daqueles párias. Para eles, Deus não poderia ser incomodado com pessoas, minorias, que não sabem como funcionam as coisas, afinal, tudo tem seu tempo, inclusive para sofrer.
Mas parte de Jesus, daquele que mais importa, o olhar para aqueles cegos. Enquanto todos egoístas queriam viver sua ilusão de uma bela despedida, Jesus olhava para a realidade e chamava aqueles dois para si. Que grande lição temos do nosso mestre! Não importa o quanto estamos em paz, o quanto gozamos de uma relativa ordem, se há pessoas a parte dessa sociedade, então não há paz plena, e precisa-se ter essa plenitude.
Vivemos numa nação que se diz cristã, 150 milhões de pessoas (entre católicos e evangélicos) dizem que seu credo religioso é fundamentado em Jesus Cristo, é nessa nação que a grande maioria deseja satisfação pessoal e paz diante de todas as problemáticas do mundo.
Pois o mestre delas, se é que elas têm algum mestre, as ensina que devem olhar para os oprimidos e socorre-los. Ir a eles, não apenas para prestar um assistencialismo, mas para ser amparo para eles, gastar tempo com eles, com seus problemas, muito mais que resolução, dar-lhes atenção. Ser 150 milhões que com o coração cheio de misericórdia, depois de lhes conhecer os motivos dos gritos e tumultos, prestar o socorro necessário, deste modo, serão pessoas de fato cristãs, e que não podem ser parte dos que desejam a paz e a ordem egoístas.


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