Daí, muitos crentes foram ensinados a ter uma preocupação de orar por esses irmãos perseguidos, como também de combater o perigo desse sistema político marxista ateu.
Mas será mesmo que esse tipo de literatura pode falar tudo sobre a relação do crente com o comunismo? No livro de Hromadka vi que não é bem assim. Para o meu espanto, trata-se de um livro de um pastor evangélico vivendo tranquilamente como pastor, professor e membro do partido comunista da antiga Checoslováquia.
É uma autobiografia desse pastor calvinista, que inicia lembrando a história religiosa de seu povo, desde a igreja ortodoxa, das missões morávias, da revolução comunista, da II Guerra e da invasão da URSS em seu país, mas sobretudo, sua percepção do mundo comunista junto com sua fé cristã.
Hromadka fala de sua formação teológica e política, entendendo que, ao contrário do que muitos achariam impossível, o marxismo auxiliou sua compreensão de missão cristã. Entendendo que para ele não interessava o ateísmo dos marxistas, mas o combate aos opressores dos trabalhadores.
Aqui pontuo que Hromadka não pode ser tomado como liberal clássico, como muitos conservadores associam a figura de um comunista cristão. Pelo contrário, apesar de professores liberais, ele não lhes poupa críticas, defendendo fundamentos da fé (sem fundamentalismo). Era um homem da Bíblia, estudioso para aplicar o sentido histórico das Escrituras.
Caminhou sem preconceitos por seminários da Europa e dos EE.UU. disseminando sua visão espiritual. Sua visão bíblica questionava a postura de um cristianismo aliado ao sistema capitalista e temeroso de uma mudança social: " Por que achamos em seus membros (das igrejas) a convicção de que suas comunidades representam a comunidade das pessoas distintas, que eles não devem se sujar pelo contato com mundo corrompido e inquietante? Por que há neles tão pouco perspicácia para ultrapassar os limites da vida habitual da igreja e da nação? Será devido à falta de um verdadeiro enraizamento na Bíblia?".
Hromadka criticou os pastores e igrejas que com medo do comunismo, se fecharam para se proteger deste mundo, esquecendo assim de seu verdeiro papel cristão que é de luta. Por outro lado, foi criticado, chamado de traidor por muitos pastores que não viam ligação possível com o comunismo.
Por fim, não idealizo um comunismo pacífico, nem isso foi visto por Hromadka, mas inclusive, ele destaca sua percepção de que o comunismo havia sido corrompido pelo poder e que os países sofriam com isso. O que vemos é que nem comunismo, nem capitalismo, mas a sede pelo poder destrói os homens.
Desde modo, quero apresentar ao leitor uma nova ideia sobre a "cortina de ferro". Acredito que os defensores do capitalismo foram os que criaram essa cortina, para não mostrar toda verdade, a verdade de que o homem não é vítima de sistemas políticos, mas é o destruidor deles. Poderíamos ter um sistema capitalista justo, onde as pessoas não desejassem ter mais do que podem usufruir (fazendo uma reforma agrária), nem cobrar mais do que é justo (impossibilitando as pessoas de possuírem seus recursos), nem defender sua liberdade às custas do benefício geral da humanidade (valorizando o seu direito ao prazer acima da Lei do amor ao próximo).
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