quinta-feira, 14 de junho de 2012

Para que eu Vivo? - J Hromadka

No meio evangélico brasileiro, por volta da década de 1970 e 1990 muitos livros biográficos foram escritos sobre cristãos que viviam em países da "cortina de ferro", ou seja países comunistas. Em geral eram histórias de pessoas que passaram por perseguições por viverem num regime político ateu.
Daí, muitos crentes foram ensinados a ter uma preocupação de orar por esses irmãos perseguidos, como também de combater o perigo desse sistema político marxista ateu.
Mas será mesmo que esse tipo de literatura pode falar tudo sobre a relação do crente com o comunismo? No livro de Hromadka vi que não é bem assim. Para o meu espanto, trata-se de um livro de um pastor evangélico vivendo tranquilamente como pastor, professor e membro do partido comunista da antiga Checoslováquia.

É uma autobiografia desse pastor calvinista, que inicia lembrando a história religiosa de seu povo, desde a igreja ortodoxa, das missões morávias, da revolução comunista, da II Guerra e da invasão da URSS em seu país, mas sobretudo, sua percepção do mundo comunista junto com sua fé cristã.
Hromadka fala de sua formação teológica e política, entendendo que, ao contrário do que muitos achariam impossível, o marxismo auxiliou sua compreensão de missão cristã. Entendendo que para ele não interessava o ateísmo dos marxistas, mas o combate aos opressores dos trabalhadores.
Aqui pontuo que Hromadka não pode ser tomado como liberal clássico, como muitos conservadores associam a figura de um comunista cristão. Pelo contrário, apesar de professores liberais, ele não lhes poupa críticas, defendendo fundamentos da fé (sem fundamentalismo). Era um homem da Bíblia, estudioso para aplicar o sentido histórico das Escrituras.
Caminhou sem preconceitos por seminários da Europa e dos EE.UU. disseminando sua visão espiritual. Sua visão bíblica questionava a postura de um cristianismo aliado ao sistema capitalista e temeroso de uma mudança social: " Por que achamos em seus membros (das igrejas) a convicção de que suas comunidades representam a comunidade das pessoas distintas, que eles não devem se sujar pelo contato com mundo corrompido e inquietante? Por que há neles tão pouco perspicácia para ultrapassar os limites da vida habitual da igreja e da nação? Será devido à falta de um verdadeiro enraizamento na Bíblia?".
Hromadka criticou os pastores e igrejas que com medo do comunismo, se fecharam para se proteger deste mundo, esquecendo assim de seu verdeiro papel cristão que é de luta. Por outro lado, foi criticado, chamado de traidor por muitos pastores que não viam ligação possível com o comunismo.
Por fim, não idealizo um comunismo pacífico, nem isso foi visto por Hromadka, mas inclusive, ele destaca sua percepção de que o comunismo havia sido corrompido pelo poder e que os países sofriam com isso. O que vemos é que nem comunismo, nem capitalismo, mas a sede pelo poder destrói os homens.
Desde modo, quero apresentar ao leitor uma nova ideia sobre a "cortina de ferro". Acredito que os defensores do capitalismo foram os que criaram essa cortina, para não mostrar toda verdade, a verdade de que o homem não é vítima de sistemas políticos, mas é o destruidor deles. Poderíamos ter um sistema capitalista justo, onde as pessoas não desejassem ter mais do que podem usufruir (fazendo uma reforma agrária), nem cobrar mais do que é justo (impossibilitando as pessoas de possuírem seus recursos), nem defender sua liberdade às custas do benefício geral da humanidade (valorizando o seu direito ao prazer acima da Lei do amor ao próximo).

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