domingo, 27 de julho de 2014

Deus e o lixo


O capitalismo que foi desenvolvido nos países cristãos tem contribuído grandemente para a degradação do mundo. Foi com o surto industrial do século 18 e o seu desenvolvimento que a degradação ambiental disparou. E, não apenas isso, mas a ganância de fazer crescer o capital produziu uma desenfreada corrida por abrir espaços para indústria e construir espaços para desenvolvimento do consumo da produção (shoppings, resorts, parques, ESTÁDIOS, estradas, portos). Acima da qualidade de vida em comunidade, como foi o ideal cristão primitivo, está a qualidade de vida em possuir bens de consumo.



Com essa atitude, parece que a crença em deus se revela mais ainda como um mero subterfúgio para crises existenciais que com uma verdadeira relação pessoal de amor ao Criador. Deus é um conceito ensinado para desenvolver uma crença a parte da vida material, ele é mais um ser que há de salvar a alma para uma vida eterna pós morte (ganho pessoal, individual) que o "Pai Nosso" que eles afirmam. E ainda, a crença cristã na graça (perdão incondicional de deus) parece uma saída perfeita para destruir o meio ambiente. Pois, no fim de tudo, deus irá perdoar seus filhos. Vejamos que nada (no pacote da fé) parece ferir, ou ao menos incomodar a prática de degradação da natureza que o cristão realiza.

Nem ouse falar aos cristãos consumistas e capitalistas sobre esse ponto, pois logo irão dizer que a degradação não é culpa do capitalismo. Veremos cristãos ocupados em defender sua vida econômica e esconder bem no fundo do baú a sua fé. Não espere que nessa hora o cristão haja conforme seu livro sagrado: seja tardio para falar e pronto para ouvir, seja tardio em irar-se, ande uma segunda milha, "dê a face a quem o fere". Neste momento, o cristão não será aquilo que ele finge ser, seguidor de Jesus (manso, amoroso, compreensivo). - O cristão só apresenta essas qualidades quando ele está querendo conquistar devotos para sua igreja. - Mas revelará o que sempre foi, e o que todos somos, defensores ardilosos por sua vida (e neste caso, a sua vida consumista).

Deste modo, ao invés de ser cristão e fazer uma confissão de arrependimento, tomando para si uma penitência de cuidar do planeta como o seu deus manda, pois, lembremos que ardorosamente eles defendem o texto da Bíblia em Gênesis que diz: E Deus pôs o homem no jardim para CULTIVAR e GUARDAR. O que um verdadeiro cristão deveria fazer era tomar para si a responsabilidade de cuidar do planeta, fazer um uso controlado do seu desenvolvimento econômico de modo que o equilíbrio ambiental e social esteja sempre acima da produção. Isto é curioso, os cristãos defendem tanto a literalidade do livro de Gênesis (acreditam em criacionismo, serpente que fala, culpabilidade da mulher em comer do fruto proibido e por isso a sua subserviência ao homem, dilúvio), mas quando isso envolve compromisso, desaceleração da produtividade, gastos em reparos ambientais, o texto pode até ser literal, mas o compromisso com o seu deus é alegórico.

Os cristãos gastam muitos recursos com suas campanhas evangelizadoras, fazendo igrejas imponentes, e igualmente, obtendo posse de bens produzidos para si mesmos; mas os avanços cristãos no tema da ecologia permanecem apenas como um tema marginal que se trata para aliviar a consciência, mas não há (por parte da maioria das igrejas conservadoras e fundamentalista) um empenho em promover um evangelho ecológico. O maior passo que os cristãos poderão dar para cuidar do seu meio ambiente, e serem obedientes ao seu deus está em praticar literalmente outro texto sagrado, e abandonar o modo de produção capitalista, "Tendo com o que comer e com o que se vestir, estejam satisfeitos".

Jesus confrontou a sociedade (antes do advento da indústria e do capitalismo em si) com a história de um homem que se preocupou em produzir e consumir, e que no fim de tudo, nada que ele produziu valeu para agradar a deus. Assim, se os cristãos forem de fato cristãos eles irão tomar as palavras do seu mestre e abandonar a corrida capitalista. Afinal, não é isso que o cristão almeja, agradar a deus, fazer a sua vontade? - Não, não é isso. O que o cristão almeja é produzir, explorar, comprar, controlar, vender, obter.

Discorda? Então mude.

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