sexta-feira, 25 de maio de 2012

Defenda sua identidade (uma análise do profeta Daniel)


O livro da Bíblia, Daniel, nos apresenta uma história de luta pela preservação das raízes de quatro jovens judeus. Quem você é, quem querem que você seja, e como você deve lutar para manter-se quem é, são ideias que podem ser apreendidas pela história de Daniel e seus amigos.
O capítulo 1 de Daniel nos mostra a invasão do império de Nabucodonosor à Jerusalém, e como ele leva 4 príncipes cativos para inculcar neles a cultura babilônica, tornando-os parte de seu reino. Essa estratégia de dominação foi muito importante para preservar o controle babilônico sobre os povos conquistados. Doutrinando os principais do povo derrotado ficaria mais fácil manter os povos submissos ao Império, levando os líderes a "vestir a camisa" do opressor extinguiria qualquer esperança de luta e libertação posterior, os "heróis" do povo já não existiriam.

Nabucodonosor, convoca o chefe dos eunucos, Aspenaz, para zelar para que os príncipes cativos fossem muito bem tratados, afim de que eles reconsiderassem todo conceito negativo que tinha da Babilônia e se tornassem verdadeiros propagandistas da supremacia babilônica. Aspenaz iria cuidar dos escravos que fossem viver no palácio real, esses escravos deveriam ser exemplo do "apadrinhamento" babilônico para solidificar a sujeição dos conquistados.
Quatro jovens, os protagonistas do livro, foram selecionados para viver como eunucos no palácio. Eles seriam alimentados do bom e do melhor, o rei ordenou que eles recebessem comida e bebida a fartar, além de não terem nenhuma outra obrigação, exceto a de estudar a cultura babilônica para futuramente serem parte do império. Essa condição duraria três anos, três longos anos para cumprir o propósito babilônico de "lavagem cerebral".
Todavia, a história nos relata que os quatro jovens perceberam a lógica do jogo, viram que o propósito de tantos privilégios era faze-los esquecer de suas origens. Por isso decidiram não se contaminar com aquela comida; não que houvesse algo de maléfico no ingerir os alimentos, mas aqueles jovens sabiam que aquilo iria contaminar a história de quem eles eram, e os faria esquecer de onde vieram, deixandos prontos para aceitar a cultura que lhes fosse agradavelmente oferecida (entenda-se, imposta).
Porém, eles preferiram uma alimentação pobre, preferiram passar todos os dias lembrando-se do sofrimento que passaram por causa da Babilônia e porque estavam lá. Não queriam esquecer quem eram, de que foram levados na condição de escravos, de que muitos outros compatriotas viviam oprimidos e outros tantos foram mortos. Não aceitando a fartura do reino da Babilônia, a estratégia de Nabucodonosor não iria funcionar com neles. Seu passado permaneceria vivo em suas lembranças, quaisquer judeus que ouvissem falar daqueles jovens, não iriam se desanimar, não iriam perder as esperanças, não iriam se entregar à cultura da Babilônia também. Mesmo que eles sofressem como escravos na Babilônia, guardariam, ainda que dolorosamente, a espera de cantar novamente as músicas de seu povo quando voltassem para Judá!
Que belo testemunho que esse texto nos dá! Um texto que nos mostra a luta por manter uma identidade, não esquecer de onde se veio. Devemos ensinar isso também em nosso meio, a importância que os jovens devem dar na preservação de sua identidade cultural. Poucos jovens sabem do valor da história de seus antepassados, por isso não se preocupam tanto em estuda-la e tentar mante-la viva. Preocupam-se mais em adquirir os bens de consumo oferecidos tranquilamente pela propaganda que a mídia passa, sem se questionar nada a respeito de tudo que lhes é ofertado.
Daniel nos inspira a buscarmos manter viva a nossa cultura, nossa Identidade. O apreço que os jovens brasileiros devem ter pela sua história pode ser extraído do valor que os quatro judeus tinham pela deles. Tenham a perspicácia de olhar tudo que vem de fora, aliás, observar até mesmo os aspectos que já pertencem à sua cultura, veja aquilo que já se modificou do que era dos seus antepassados e que já se tornou até mesmo a sua cultura, mas você nem sabia que em um determinado momento aquilo lhe foi imposto.
Não proponho uma negação ou uma decantação daquilo que não nasceu em nossa cultura, para vivermos uma cultura radicalmente brasileira, até porque a cultura brasileira, assim como a cultura em si mesma, não veio pronta, mas foi se formando a partir de aspectos que foram adentrando na sociedade. Proponho sim que conheçamos a nossa história afim de entendermos a cultura em que vivemos, sabermos como o que somos surgiu, conhecer todas as forças que influenciaram nossa cultura e nos fez o que somos hoje.

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