quinta-feira, 2 de maio de 2013

Classe média soteropolitana


Uma marca da classe média soteropolitana é a sua identificação com o passado colonial, mas sobretudo, com o período imperial do século XIX. Inicialmente isto pode ser percebido pelo vocabulário da população de Salvador identificados com o linguajar português, termos como “azeite doce” (azeite de oliva), “barão” (pessoa rica), “passeio” (calçada), “meter” (colocar), “partir” (cortar algo), “apanhar” (pegar), “saltar” (pular), “fecho” (zíper) etc. E também, a classe média Soteropolitana quem mais propaga a ideia de Salvador como a primeira capital do Brasil, e que tudo começou aqui, por isso devemos nos orgulhar do que fomos, e se possível, manter-nos como sempre fomos. Por isso, muito do comportamento soteropolitano reflete o vínculo com o passado luso-brasileiro, pode-se perceber isto sobre o modo como a classe média soteropolitana enxerga com estranheza as conquistas das trabalhadoras domésticas, pois rompem com os antigos costumes de tratamento entre patroas e empregadas.
https://www.youtube.com/watch?v=y7U11IdDBrE
Esta visão que se tem sobre as empregadas domésticas reflete o aspecto cruel da classe média, sua visão racista e nostálgica pelo regime da escravatura. Sob esse aspecto, a classe média não se sentiria mal se houvesse uma volta aos antigos costumes no trato com as domésticas, se as patroas pudessem voltar a xingar ou castigar fisicamente sua empregadas, pelo contrário, as patroas sentiriam que voltou a normalidade de antigamente. Pois para a classe média, o trabalho doméstico não pode ser equiparado ao “trabalho de verdade”, ou seja, o exercido pelos patrões. Para a classe média, o normal é que seu status seja mantido e que a classe trabalhadora (classe trabalhadora será usado aqui segundo a nomenclatura marxista que identifica a divisão social do trabalho como classe burguesa – detentora dos meios de produção, classe média – grupo intelectualizado que administra os meios de produção burgueses, e classe trabalhadora – a população que compõem a mão-de-obra para a burguesia) seja diferenciada, não possuindo os direitos que a classe média já usufrui.
A classe média soteropolitana, que não se considera racista, não consegue perceber que sua visão sobre a divisão do trabalho está impregnada do passado escravocrata e racialista. Quando encara as conquistas trabalhistas como uma afronta à sua segurança no que concerne ao seu “status quo”, ela mostra que não busca direitos iguais, pelo contrário, deseja preservar a distinção e abismo social entre eles e a classe trabalhadora. Este aspecto que vai de encontro a plena democracia, e que na verdade favorece uma aristocracia (governo dos mais poderosos), depõem contra a própria classe média. Pois esta classe gaba-se tanto de ter acesso à formação acadêmica, não possui o maior valor do academicismo que é o conhecimento que visa ao desenvolvimento social. Se a classe média tivesse o conhecimento e o aplicasse, saberia que diversos momentos do progresso intelectual ocidental, como a Reforma Protestante, o Iluminismo etc, conduz toda sociedade ao avanço na qualidade de vida. Ou seja, os valores de subjugar um povo a outro é algo que tende a ser questionado conforme o tempo, ou seja, a separação de classes é algo que deve ser combatido segundo os saberes ocidentais.
Mas a classe média não consegue entender que os avanços para a classe trabalhadora são naturais e positivos. Esta classe deveria encarar as conquistas trabalhistas como provas de que o avanço intelectual conquistados por ela (a classe média), alcançaram os oprimidos pela classe burguesa, que a todos oprime. Deste modo, possibilitando que haja uma maior justiça social do trabalho, quando cada ser humano será respeitado pela sua condição de trabalhador e não de detentor do capital. Pois o que faz o mundo progredir não é o acúmulo de capital, mas o progresso do trabalho, por isso, é bom para a sociedade quando os que trabalham usufruem igualitariamente dos frutos de seu labor, ao passo que é destrutivo quando a recompensa maior e final do trabalho vai, desigualmente, para o detentor dos meios de produção.
Contudo, a classe média não enxerga deste modo, pelo contrário, ela se vê com uma aliada a classe burguesa, buscando nesta o favor e quem sabe a própria ascensão à burguesia. E vê na classe trabalhadora um preocupante espectro da pobreza, de acordo com Marilena Chauí, o maior pavor da classe média é se tornar classe trabalhadora, ou seja, pobre. Por isso, a classe média entende que precisa continuar a se opor às conquistas dos trabalhadores, evitando assim que seu lugar social seja disputado por aqueles que são inferiores. Deste modo, a classe média, e volto a classe média soteropolitana, precisa amparar-se no passado elitista do modus vivendi do período imperial. Em Salvador, a classe média luta por uma permanência da separação das classes, propagando que Salvador foi a primeira capital do Brasil, que tudo começou aqui, e a conclusão natural é que isto não pode mudar, precisa-se manter Salvador com a mesma glória colonial e imperial, entenda-se deste modo que em Salvador as classes não podem e nem devem mudar suas condições.

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