Uma marca da classe média soteropolitana é a sua
identificação com o passado colonial, mas sobretudo, com o período imperial do
século XIX. Inicialmente isto pode ser percebido pelo vocabulário da população
de Salvador identificados com o linguajar português, termos como “azeite doce”
(azeite de oliva), “barão” (pessoa rica), “passeio” (calçada), “meter”
(colocar), “partir” (cortar algo), “apanhar” (pegar), “saltar” (pular), “fecho”
(zíper) etc. E também, a classe média Soteropolitana quem mais propaga a ideia
de Salvador como a primeira capital do Brasil, e que tudo começou aqui, por
isso devemos nos orgulhar do que fomos, e se possível, manter-nos como sempre
fomos. Por isso, muito do comportamento soteropolitano reflete o vínculo com o
passado luso-brasileiro, pode-se perceber isto sobre o modo como a classe média
soteropolitana enxerga com estranheza as conquistas das trabalhadoras domésticas,
pois rompem com os antigos costumes de tratamento entre patroas e empregadas.
https://www.youtube.com/watch?v=y7U11IdDBrE
https://www.youtube.com/watch?v=y7U11IdDBrE
A classe média soteropolitana, que não se considera racista,
não consegue perceber que sua visão sobre a divisão do trabalho está impregnada
do passado escravocrata e racialista. Quando encara as conquistas trabalhistas
como uma afronta à sua segurança no que concerne ao seu “status quo”, ela
mostra que não busca direitos iguais, pelo contrário, deseja preservar a
distinção e abismo social entre eles e a classe trabalhadora. Este aspecto que
vai de encontro a plena democracia, e que na verdade favorece uma aristocracia
(governo dos mais poderosos), depõem contra a própria classe média. Pois esta
classe gaba-se tanto de ter acesso à formação acadêmica, não possui o maior
valor do academicismo que é o conhecimento que visa ao desenvolvimento social.
Se a classe média tivesse o conhecimento e o aplicasse, saberia que diversos
momentos do progresso intelectual ocidental, como a Reforma Protestante, o Iluminismo
etc, conduz toda sociedade ao avanço na qualidade de vida. Ou seja, os valores
de subjugar um povo a outro é algo que tende a ser questionado conforme o tempo,
ou seja, a separação de classes é algo que deve ser combatido segundo os
saberes ocidentais.
Mas a classe média não consegue entender que os avanços para
a classe trabalhadora são naturais e positivos. Esta classe deveria encarar as
conquistas trabalhistas como provas de que o avanço intelectual conquistados
por ela (a classe média), alcançaram os oprimidos pela classe burguesa, que a todos
oprime. Deste modo, possibilitando que haja uma maior justiça social do
trabalho, quando cada ser humano será respeitado pela sua condição de
trabalhador e não de detentor do capital. Pois o que faz o mundo progredir não
é o acúmulo de capital, mas o progresso do trabalho, por isso, é bom para a
sociedade quando os que trabalham usufruem igualitariamente dos frutos de seu
labor, ao passo que é destrutivo quando a recompensa maior e final do trabalho
vai, desigualmente, para o detentor dos meios de produção.
Contudo, a classe média não enxerga deste modo, pelo
contrário, ela se vê com uma aliada a classe burguesa, buscando nesta o favor e
quem sabe a própria ascensão à burguesia. E vê na classe trabalhadora um
preocupante espectro da pobreza, de acordo com Marilena Chauí, o maior pavor da
classe média é se tornar classe trabalhadora, ou seja, pobre. Por isso, a
classe média entende que precisa continuar a se opor às conquistas dos
trabalhadores, evitando assim que seu lugar social seja disputado por aqueles
que são inferiores. Deste modo, a classe média, e volto a classe média
soteropolitana, precisa amparar-se no passado elitista do modus vivendi do período imperial. Em Salvador, a classe média luta
por uma permanência da separação das classes, propagando que Salvador foi a
primeira capital do Brasil, que tudo começou aqui, e a conclusão natural é que
isto não pode mudar, precisa-se manter Salvador com a mesma glória colonial e
imperial, entenda-se deste modo que em Salvador as classes não podem e nem
devem mudar suas condições.
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